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O UNIVERSO DOS COLECIONADORES

Eles dedicam não só um espaço na sua casa, mas também no coração e na vida à personagens que fizeram história e se eternizam em bonecos, talheres, fantasias e tantas outras peças. 

Thalita Namie é colecionadora de Cavaleiros do Zodíaco desde os 7 anos de idade, quando os primeiros animes japoneses eram apresentados pela extinta emissora brasileira Manchete.  Atualmente,  Thalita possui 97 peças que representam parte da coleção total. ‘’Sou fã da série então, desde o principal, até o mais  guardadinho, para quem coleciona são importantes. Quanto mais itens, com maior variedade, maior o valor da sua coleção. Até o personagem que só apareceu uma vez, se você tiver aquele item, é raro e vale demais”.

A coleção mais valiosa que possui é uma comprada em 2004, quando ainda trabalhava em lojas de brinquedos. Hoje, segundo ela, o melhor lugar para adquirir peças para a coleção é em São Paulo, onde geralmente se encontra peças importadas e com valores maiores.

Leandro Arruda Júnior tem grande paixão por Star Wars e por suas coleções. Tudo começou com o lançamento de um outro filme, o primeiro da saga Senhor dos Anéis e durante as pesquisas para compra de peças descobriu a franquia Star Wars. Conta também que desde os 10 anos coleciona HQs, Action Figures e gadgets nerds. “Minha primeira peça como colecionador foi o Frodo com cenário. Da coleção do Star Wars foi uma figura de 3,75 polegadas, aproximadamente 10cm, do Han Solo.”

Heróis trazem à tona uma identificação com a ficção e configuram os colecionadores como indivíduos apaixonados incondicionais. 

Nunca existiu um mercado solidificado, nem uma série de produtos que falassem direto para o público geek. É o que afirma Edison Silvestre, professor e mestre em Filosofia. "Essa tribo urbana se solidificou por conta da expansão da tecnologia, facilidade de comunicação e a quebra de barreiras entre países. Como a comunicação passou a circular com mais intensidade, as pessoas se aproximaram umas das outras. Acho que isso colaborou bastante para que os nerds ganhassem outra projeção."

O cientista coloca também que, a partir do momento em que o movimento geek evoluiu, houve um crescimento de mercado extremamente forte. “Se pegarmos o momento em que os nerds estavam crescendo, a comunicação e o trânsito de produtos eram limitados, então era difícil dizer que havia um mercado. Mas a partir do momento em que isso cresceu, se tem hoje um mercado extremamente forte." Ele conta que a partir do momento em que os geeks despontam como um potencial consumidor de produtos, a indústria se solidifica. Desta forma, o mercado é muito voltado para essas pessoas porque há uma demanda forte que cresce ao passo que a comunicação se expande, virando uma bola de neve, com mais produtos e mais adeptos.

A ascensão da inclusão digital faz com que os jovens já se familiarizem com este mundo mais rapidamente. Comparado ao século passado, o crescimento de geeks e nerds “saltou” de forma expressiva e, além disso, seu estereótipo foi radicalmente modificado, devido às novas tecnologias que são criadas dia após dia. Antes eram considerados pessoas extremamente estudiosas e inteligentes. Hoje, como “antenados nas tecnologias recentes”. Cadu Novaes, colunista do Globo News e especialista no assunto, diz que geeks e nerds respiram tecnologia. Além disso, Cadu diz que não buscam o status de inteligentes. “Acaba sendo meio que automático o perfil da pessoa que é aficionada por esses segmentos. Então não acredito numa modelagem de padrão de inteligência obrigatório.”

Atualmente há um assunto que é muito discutido tecnológico, principalmente em redes sociais: o e-Sport (esporte eletrônico). A ascensão da modalidade ganhou espaço na TV por assinatura com direitos de transmissão, além da prática profissional, onde atletas são pagos para isso. Muitas pessoas dizem que esta categoria não é esporte por não haver esforço físico, embora muitos defendam o alto esforço mental que é exigido. Os geeks e nerds estão conectados nisso, mesmo que não “pratiquem” e-Sport. “Nem todo geek precisa necessariamente ser um e-atleta, mas talvez ele jogue o mesmo game como hobby e se interesse por acompanhar os campeonatos”, diz Cadu sobre o assunto.

EVOLUÇÃO E VISIBILIDADE

Frederico Messias

Estudante de Ciências e Tecnologia do Mar pela Universidade Federal de São Paulo, Thales Tadashi, 18 anos, é também campeão brasileiro de Pokémon Card Game e já representou o país no mundial da modalidade em Washington, D.C. A paixão pelos jogos foi além e hoje, além de membro da Krakens - equipe de Pokémon TCG da Baixada Santista - possui sua própria empresa voltada para o nicho.

Tiê: Como e porque você começou a jogar?

Thales Tadashi: Comecei a jogar no começo de 2013, quando um amigo de escola me apresentou o jogo. Era uma temática a qual já estava habituado. Sempre gostei da franquia Pokémon, então depois de passar alguns dias aprendendo como o jogo funcionava, me peguei admirado pelo ‘’ tal de Card Game’’ e resolvi que queria me dedicar, como uma espécie de hobby.

T: Você é campeão nacional e se classificou para o mundial. Como foi este processo?

TT: Em 2014 eu tive a oportunidade de jogar o campeonato nacional e, apesar do grau de dificuldade que enfrentei, consagrei-me campeão. Com essa vitória, conquistei uma vaga no mundial em Washington D.C., o que particularmente foi a realização de sonho, já que sempre quis viajar para fora do país. Os custos da viagem, da estádia, todos foram pagos pela Pokémon Company (empresa responsável pela franquia).

 

T: Como você se prepara para as disputas em geral? Possui inspirações dentro deste universo?

TT: Busco evoluir cada vez mais, respeitando uma rotina de treinos e estudos do jogo. Também acompanho alguns jogadores que tomo como referência fora do Brasil. Não tenho nenhum ídolo dentro do jogo, mas tenho dois fora dele: meus pais, os quais sempre me apoiam em qualquer que seja a minha escolha.

 

T: Atualmente você é membro da equipe Krakens, uma equipe criada aqui mesmo na Baixada. Quais os benefícios de pertencer a uma equipe?

TT: Nossa equipe tem um treinamento diferenciado, com um grau maior de dificuldade que faz com que todos se desenvolvam ainda mais. Além de proporcionar alguns auxílios nas nossas carreiras, foi com a Krakens que tive a oportunidade de novamente me classificar para o mundial na temporada passada, desta vez em Anaheim, na Califórnia.

Amália Borges coleciona diversas peças da Mulher Maravilha. “Sempre fui apaixonada por ela. Meu aniversário de 6 anos tinha a boneca de papelão dela na mesa do bolo. Minha primeira peça da coleção foi dada pelo amigo Rafael Martins, um busto que é um cofre também. Hoje eu tenho mais de 50 itens relacionados a Mulher Maravilha.”

Para proteger e preservar as peças, Amália reserva uma parede com prateleiras em sua casa e guarda algumas peças em aquário também. “Gosto dela pela força, imortalidade e por buscar a verdade sempre. E por ser um ícone do feminismo e autoconfiança. 

Para quem pensa que vilão é sempre odiado se engana. Márcio Seco literalmente vestiu a camisa para nos contar como começou o seu amor pela saga Star Wars e pelo vilão Darth Vader. "Eu nasci na época do filme. Como criança você entra naquele universo da fantasia, tem vários elementos que atrai, a figura do bem e do mal, a figura do Darth Vader sendo ícone, embora ele seja vilão, mas é um vilão carismático."

Sobre sua coleção, Márcio explica que coleciona várias coisas, porém algumas têm uma maior aproximação,  como por exemplo bonecos, que são mais de 100. Possui várias versões do mesmo boneco. Alguns quebraram e ele confessa que não chorou por vergonha, mas que ficou bem triste por serem peças que não são mais encontradas, não pelo valor, mas pela história. a vezes que você não encontra mais, as vezes não é nem o valor do produto, todo artigo tem uma história por trás. Finaliza com a frase mais famosa do filme e que leva para a sua vida, "que a força esteja com você". "Eu mando isso no final dos e-mails porque além de ser a frase que comanda o universo Star Wars, eu acho que tem uma grande força, é como se você estivesse desejando bons fluídos, uma boa energia e eu acho que isso é legal."

SIGA A TIÊ!

O ano de 2008 marcou uma nova época para os nerds e geeks, mas não somente isso, pois também foi o início do boom do segmento nerd/geek. Filmes de super heróis, o mercado de games gerando bilhões no Brasil e livros sobre clássicos como mais vendidos. Esses e outros fatores provam o quão fervoroso este nicho de mercado está. Especificamente, a cidade de Santos foi eleita em 2016 como a quarta cidade mais nerd do Brasil segundo um grande site de comércio eletrônico. “É um mercado muito difícil, muito competitivo, você tem que estar sempre atualizado”, pontua Glauber Figueira, dono da Caverna do Dragão em Santos.

Outro comercio, A HC Art Collection, trabalha com colecionáveis e quadrinhos dos mais variados heróis e personagens da ficção geek e nerd. Os proprietários Rogério e Gustavo comentam sobre o mercado santista. 

 

MERCADO GEEK NA BAIXADA

Fachada da Caverna do Dragão

Fachada da loja em Santos

“Nós temos diversos clientes aqui. Há aqueles que colecionam mais quadrinho e tem pouquíssimas action figure, e outros tem o foco nas action figures”. Glauber completa dizendo que “as vendas nesse universo acontecem o tempo inteiro, no mundo inteiro, de uma forma bem maciça. Além do mais, não tem como não conhecer os super-heróis da Marvel, da DC e outros até menores”. Ambos acreditam no potencial santista, mas são prejudicados com uma forte concorrência: a internet.

“A gigante do comércio eletrônico está no mercado americano, querendo detonar os outros em volta, e monopolizar tudo. E ela vai lucrar”, diz Gustavo da HC Art Collection. “A gente vende um quadrinho ou mangá por R$70,00 recém lançado. Você vai na internet, está R$35,00”, finaliza. 

 

Glauber acrescenta que, apesar da grande concorrência da internet, as lojas físicas não ficam atrás. Embora o mercado geek santista seja um dos maiores setores quando o assunto é nerdice, os impedimentos legais e também a forte concorrência vinda do varejo online dificultam o trabalho de quem empreende, que muitas vezes não tem como competir contra gigantes do varejo. As grandes empresas se beneficiam pois compram mais barato e revendem para uma maior demanda, enquanto empreendedores menores acabam ganhando apenas os consumidores passageiros da cidade.

 

O cosplay tem sido importante para incontáveis pessoas pela sociabilidade, pela forma de expressão, arte e nos negócios. E, diferentemente do que a cultura pop mostra, não há estereótipo nos cosplayers.

Rodrigo Pereira Freire, 23 anos, também é conhecido como Rodrigo Deadpool. Ele diz que gosta de escolher personagens que se assemelhem a ele e assim tenta replicar a personalidade deles em seus cosplays. Quanto ao custo, afirma que geralmente varia de 30 a 600 reais, dependendo do projeto.

Já Lindemberg Pereira dos Santos, 34 anos, representante de vendas e professor conta que o interesse surgiu quando visitou um dos primeiros eventos de cultura oriental em Santos e fotografou alguns personagens de animes. Para ele, um dos fatores para a escolha do personagem é o custo da produção.

A dona da loja "Yume Paper" e da marca "Nessieart", Vanessa Santos, que também é estudante de design gráfico, comenta sobre a 'ajudinha' que a loja recebe do cosplay. "Ser cosplayer te insere em uma comunidade de pessoas que curtem as mesmas coisas, ou seja, o público alvo da minha loja. Por ser próxima desse público, é muito mais fácil identificar uma novidade ou um interesse que se destaque."

Os problemas também existem no mundo de cosplay. 

COSPLAYS ALÉM DA FICÇÃO

A estudante de Design Gráfico na ESAMC e gestora de mídias sociais, Nicole Diniz, comenta que parou temporariamente de fazer pela falta de tempo e pelo alto custo dos materiais. Nicole confessa que nem tudo são mil maravilhas. Há preconceito, inclusive. "Geralmente começam [a fazer] suas roupas com pouco investimento e de materiais mais barato, aí as pessoas zombam por serem 'menos' qualificados dos que os que já estão a anos nesse hobby. É normal em praticamente quase todos os eventos zombarem de cosplays mais 'empobrecidos'.”

Lindemberg em performance como Wolverine

PROFISSIONAIS DA MAGIA

“Luke, eu sou seu pai”. “Ao infinito e além”.

O cinema e as séries estão cercados de frases célebres que ficam eternizadas na memória. Não importa quanto tempo passe, a voz do personagem sempre vem na nossa cabeça. Pode não parecer, mas dublar um personagem requer muito trabalho. Marco Antônio D’Ângelo Abreu entende bem disso. O dublador santista, que trabalha no ramo há mais de 15 anos, empresta sua voz para grandes personagens como o Patrick, de Bob Esponja, e Rick, de The Walking Dead. “É uma arte difícil. Para se tornar um dublador, você precisa ser ator. Mas só isso não basta. Transmitir a emoção e ter sincronia é necessário. Começar e terminar frases no tempo certo, além de respeitar as expressões faciais é fundamental. Trata-se de um grande processo”, comenta.

Marco começou com pequenas dublagens em 2000 até passar pelos estúdios dos canais Discovery Channel e Animal Planet. Hoje participa dos mais variados trabalhos, alguns que até o surpreenderam. “Quando fui chamado para o teste de um novo desenho, onde eu seria uma estrela do mar rosa, achei surreal. Mas comecei a fazer o Patrick e ele foi um grande sucesso. Graças a ele fiz outros trabalhos. Foi meu abre alas. O Rick [de The Walking Dead] é outro personagem que fez muito sucesso. Já estamos indo para a sétima temporada. Uma série de zumbi que é febre no mundo inteiro. Hoje posso dizer que já fiz a voz do Garfield, desenhos da Fox e séries como Prison Break e Game Of Thrones”.

Atualmente, o universo geek tem ganhado cada vez mais força. Eventos e bares temáticos estão cada vez mais presentes na Baixada Santista, onde o movimento possui muitos adeptos. Entretanto, do ponto de vista profissional, ainda existe muito espaço para Santos expandir. “Na Cidade [Santos] existe apenas um estúdio que realiza trabalhos de dublagem para grandes veículos. Mas a maior parte do mercado concentra-se em São Paulo e Rio de Janeiro”, explica Marco Antônio.

Se por um lado, Marco faz questão de deixar sua dublagem o mais próximo do original, por outro Hector Lima tem total liberdade para criar. O caiçara, roteirista de gibis, deixa a imaginação fluir ao escrever suas narrativas.

“Cada história surge de um jeito diferente, não há um método ou fórmula. Pode ser uma situação que aconteceu com você que faz criar conexões mentais diferentes, pode ser uma frase solta, um sentimento, uma memória, uma conversa ouvida na rua”, explica ao falar sobre a origem de suas inspirações. A partir daí, começa o trabalho. “Tento desenvolver um argumento de texto corrido, com os acontecimentos principais da história. Depois isso tudo vai virar um roteiro, que é um guia para o desenhista representar todas essas narrativas de maneira visual”, conta.

 

Indicado ao Troféu HQ Mix por três anos, Hector analisa o mercado atual. “Nosso mercado está em crescimento. Ainda não há leitores suficientes para sustentar uma carreira no meio. No Brasil, os gibis são um complemento na ocupação profissional de um roteirista. Para quem consegue entrar no mercado norte-americano, é diferente. A demanda é maior”.

Mesmo com muitos caminhos a percorrer, a Cultura Pop avança a cada dia na Baixada Santista. Está presente nas camisetas temáticas que desfilam pelas ruas, nos dias de intensa mobilização para caçar Pokémon’s, nas maratonas de série e nos gibis que viajam com seu leitor para qualquer lugar. É um nicho que pode representar infinitas possibilidades de crescimento para a Cidade. Um amor que consegue unir trabalho e diversão, nutrindo cada vez mais o imaginário dessa nova geração de nerds.

Marco Antônio dá voz à Patrick, a estrela do mar, e Rick, de TWD

PERFIL: THALES TADASHI

T: Os jogadores de Pokémon Card Game recebem incentivos financeiros, tais como salário ou ajuda de custo?

TT: Atualmente, os jogadores não têm um salário fixo, mas são premiados pela Pokémon Company com quantias em dólar de acordo com a colocação nos campeonatos de grande porte.

 

T: O que você acredita que ainda falta desenvolver no ramo?

TT: Mais patrocínio e interesse do setor privado. Acredito que seja um bom ramo para empresas das áreas de tecnologia, informática e viagens caso patrocinassem equipes. É uma modalidade de card game hoje com ampla visibilidade e divulgação, tanto no país quanto no mundo, uma vez que o Brasil é o terceiro maior público, perdendo apenas para os Estados Unidos e o Japão.

 

T: Soubemos que possui uma empresa própria para este mercado. Conte-nos mais.

TT: Minha empresa se chama Deck Check e é especializada na produção de playmats (superfícies lisas utilizadas como ‘’campo’’ para por as cartas do jogo), porém voltada também para material de jogos de carta em geral. A empresa possui apenas um mês e foi criada após fazer um estudo de mercado no qual identifiquei que era um tipo de produto que uma grande parcela dos jogadores utiliza, porém não existem muitos locais no Brasil que comercializem playmats de boa qualidade. A Deck Check atende desde o jogador, até o lojista que se interesse em trabalhar com versões personalizadas.

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